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Em dois meses, coronavírus matou mais pacientes do que AVC, infarto e câncer de pulmão no Ceará

11 de maio de 2020 às 10:39 - Atualizado em 11/05/2020 10:39

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Nos meses de março e abril, a Covid-19 matou sozinha mais pacientes no Ceará que as causas historicamente mais comuns de óbitos juntas no estado, como: infarto, AVC e câncer de pulmão (tipo mais recorrente de neoplasia). Juntas, as três causas mataram, em março e abril, 579 pessoas no estado. Nesse mesmo período, o Ceará teve 705 pacientes mortos por coronavírus.

As três primeiras mortes por Covid-19 no Ceará foram registradas pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) no dia 24 de março.

Até este domingo (10), às 17h15, a Sesa registrava mais de 1,1 mil pessoas mortas no estado vítimas da doença. Mais de 309 óbitos ainda estavam sob investigação.

Os dados analisados pelo G1 constam no IntegraSUS, plataforma pública da Sesa que, tem, dentre outras informações, os indicadores da mortalidade nos 184 municípios do Ceará nos últimos 10 anos.

Conforme o sistema, as mortes por Covid-19 em março e abril superam os 285 óbitos por infarto agudo do miocárdio, as 253 mortes por pneumonia por micro-organismo não especificado, as 180 mortes por AVC e as 114 mortes por câncer dos brônquios e dos pulmões no Ceará no mesmo período.

Outra informação que revela a dimensão da Covid-19 no estado é que em dois meses, o novo vírus já matou mais pessoas no Ceará que doenças como câncer de fígado (394 mortes), de pâncreas (372) e de colo do útero (301), edema pulmonar (165), cirrose hepática (366) e HIV (267) ocorridas durante o ano inteiro de 2019 no estado.

Isso por uma limitação da própria plataforma, já que o IntegraSUS não permite a consulta das causas gerais das mortes por dia, restringindo à disponibilização das informações por mês. Portanto, poderia haver uma imprecisão de períodos caso os dias de maio fossem contabilizados no comparativo entre os indicadores de mortalidade por outras causas e aquelas por Covid-19.

Óbitos em Fortaleza

As mortes por coronavírus no Ceará podem ser ainda mais numerosas somente nesses dois meses, pois, além das confirmações já oficializadas, há 94 óbitos ocorridos em março e abril sob suspeita de Covid-19. Em Fortaleza, epicentro da doença no Estado, nesses dois meses, 525 pessoas morreram em decorrência da doença. A quantidade supera todos os óbitos por câncer de todos os tipos no mesmo período deste ano na Capital. As diversas neoplasias mataram 368 pessoas na capital cearense no intervalo de tempo analisado.

Dentre as vítimas na cidade, está a aposentada Maria Aparecida dos Santos, de 69 anos, que era moradora do Bairro Papicu. Aparecida contraiu o vírus quando a epidemia ainda estava no início no Ceará. Após oito dias de tratamento em casa, ela foi internada. Ficou cerca de 30 dias hospitalizada e morreu no dia 19 de abril.

Aparecida não tinha nenhuma comorbidade, conta o filho, Felipe, que tenta se recuperar da perda.

"Ninguém está preparado para perder alguém. Mas perder alguém nas condições que essa doença está levando as pessoas é muito pior. É um ciclo que não se fecha. É como a pessoa desaparecida. Você não viu. Você não sabe nada”.

Letalidade

Para o presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI), médico Guilherme Henn, já era esperado que “os óbitos por Covid-19 suplantassem as outras doenças”. Ele avalia que “mesmo que tivéssemos condições de atender a todos os óbitos por Covid-19, ainda assim ela suplantaria as demais doenças, porque é uma quantidade enorme de casos em um curto espaço de tempo de uma doença aguda”.

Mas, ele pondera que a atual taxa de letalidade está superestimada no Estado, já que, conforme o médico, o número de pessoas contaminadas é maior do que o registrado oficialmente - e o cálculo da letalidade leva em consideração os casos confirmados e as mortes registradas.

Guilherme também explica que os índices atuais de mortes por Covid-19 no Ceará têm duas justificativas: a letalidade da doença, que é considerada alta por natureza, e o colapso do sistema de saúde. “Enquanto tínhamos condição de absorver demanda, há três, quatro semanas, um paciente chegava num serviço de saúde, em um hospital privado e ele podia ser internado. Se ele ficasse grave provavelmente existiria leitos de UTI. Estávamos conseguindo levar. Mas de umas três a duas semanas pra cá, a gente entra em uma fase mais complicada", analisa.

"As equipes de saúde estão lutando muito pela vida dos pacientes que estão internados. Enquanto essa luta acontece esse paciente vai ficando 7, 14, 20 dias internado e os pacientes que precisam de internamento, aquele que tinha a indicação relativa, muitas vezes, são mandados para casa e voltam já um pouco mais graves. Quando ele volta com indicação plena de internamento, muitas vezes, tem sequer vaga”.

Com informações do G1