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Caminha da seca: Fiéis relembram flagelo em Senador Pompeu e rogam por água

11 de novembro de 2016 às 09:26

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“Este ano, o castigo da seca parece estar sendo maior, bem parecido com aquele de 1932. A diferença está apenas nas almas, estão vivas, somos nós”, comentava a beata Maria das Dores enquanto acompanhava a procissão com destino ao cemitério da barragem do Açude Patu. Era a 33ª Caminhada da Seca, em homenagem aos mortos no campo de concentração formado na montante do Patu na pior estiagem da história em Senador Pompeu. Naquele ano milhares de flagelados morreram tentando fugir da amolação da natureza peculiar no Nordeste brasileiro, a seca.

Ainda na madrugada, por volta das 4 horas, os fiéis começaram a se concentrar diante da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores. Repetindo o ritual criado e iniciado havia três décadas pelo padre Albino Donatti, partiram no cortejo em direção ao campo santo onde foram enterrados centenas de retirantes da seca, presos num imenso curral humano e mortos por uma epidemia de cólera. São as “Almas do Povo”, como o santo coletivo ficou conhecido.

O padre mobilizador faleceu em 2013, aos 92 anos, mas deixou o seu legado. A eterna mensagem de se reverenciar anualmente as vítimas do flagelo da seca e de alertar os governantes para a constante necessidade de desenvolver políticas públicas para o convívio com a seca, ganhou repercussão e o mundo, através da mobilização anual, sempre realizada no segundo domingo de novembro. De lá para cá, mudança, apenas de párocos e do tema. Este ano foi: Caminhada ao Campo Santo do Sertão, por água pra beber, por água pra viver.

Além da maioria de fiéis louvarem as “Almas do Povo” na caminhada, e durante a missa campal, lotando em seguida o cemitério da barragem e acendendo velas nas covas rasas, representantes da Paróquia de Nossa Senhora das Dores e do Centro de Defesa dos Direitos Humanos – Antônio Conselheiro, responsáveis pela realização do evento religioso e ativista social nesta cidade do Sertão Central, situada a cerca de 280km  de Fortaleza, demonstraram preocupação também com a violência, principalmente em relação às drogas.

Durante a celebração eucarística em homenagem às vítimas do flagelo da seca, o pároco João Melo dos Reis destacou a necessidade da união das famílias e seguiu o ritual dos anos anteriores com oferendas para os participantes. O numero do cortejo foi praticamente o mesmo em relação ao ano passado, segundo ano do padre João Melo a frente da Caminhada. Entretanto, a quantidade de pagadores de promessa aumentou. A maioria realizou o percurso descalço, rogando por chuvas para o sertão.

Conforme pesquisas feitas pelo advogado Valdecy Alves no fim de abril de 1932, além do Patu foram criados outros seis campos de concentração à beira da ferrovia que ligava Fortaleza ao Crato, linha ferroviária Norte-Sul, no Ceará. Foram os campos do Buriti, no Crato; de Cariús; de Quixeramobim; o do Ipu, no Norte do Estado e ainda do Otávio Bonfim, e do Urubu, em Fortaleza.  O objetivo era impedir que os flagelados invadissem a capital cearense.