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TRE suspende perfuração de poços no CE por suspeita de fraude sob influência de Eunício Oliveira

28 de setembro de 2018 às 08:52

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Eunício Oliveira é alvo de novas suspeitas envolvendo o Dnocs. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) determinou a suspensão do serviço de perfuração de poços do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) no Ceará após indícios de que o senador Eunício Oliveira(MDB) teria influenciado em fraude na escolha de municípios. A decisão foi proferida nesta quinta-feira (27) pelo desembargador Haroldo Correia de Oliveira Máximo, a pedido do Ministério Público Eleitoral (MPE).

O presidente do Senado e candidato à reeleição já havia sido acusado de envolvimento em esquema de propina em obras do Dnocs, na delação do ex-superintendente da empreiteira Galvão Engenharia Jorge Henrique Marques Valença. Sobre a delação, o senador apontou “falso testemunho” e disse que processará delatores. Ele ainda não se pronunciou sobre o caso dos poços.

Dessa vez, a suspeita trata de abuso de poder político e econômico por parte de Eunício Oliveira durante a escolha das localidades beneficiadas com as perfurações. Segundo o MPE, dos 150 poços perfurados até agosto de 2018 no Ceará, 43 concentram-se no município de Lavras da Mangabeira, cidade natal do senador. O volume corresponde a 30% do total de poços instalados no ano eleitoral.

Além de Eunício, também são réus na ação o diretor-geral do Dnocs, Ângelo José de Negreiros Guerra, e o coordenador estadual do órgão, Francisco Hermenegildo Sousa Neto.

O procurador eleitoral Anastácio Tahim afirma que as investigações revelaram que o serviço de perfuração de poços pelo Dnocs tem sido objeto de abuso de poder por políticos “que possuem ingerência sobre o órgão, favorecidos pela ausência de critérios técnicos e imparciais de escolha do município a ser beneficiado, em favor da campanha eleitoral de 2018”.

O procurador ressalta que Lavras da Mangabeira sequer se encontrava em situação de emergência até junho deste ano e que outros municípios deveriam ter sido atendidos prioritariamente, com base nos critérios de escolha apontados pelo próprio Dnocs.

Investigações

Segundo o MPE, a investigação começou diante da quantidade de pedidos recebidos pelos Dnocs para perfuração de poços (cerca de 5 mil, enviados por associações, prefeituras, sindicatos etc). A Controladoria Geral da União (CGU), então, decidiu averiguar os critérios utilizados pelo Departamento para definir os locais a serem contemplados.

Durante o processo, o Dnocs alegou que estaria atendendo prioritariamente pedidos mais recentes e municípios que estariam em situação de emergência. No entanto, as apurações constataram que, seguindo os critérios apresentados pelo Dnocs, deveriam ter sido atendidas demandas dos municípios de Banabuiú, Alcântara, Icó e Santa Quitéria, já que preenchiam os requisitos de atualidade do pedido e emergencialidade da situação.

“Considerando a ordem cronológica da efetiva perfuração dos poços e as 30 primeiras perfurações como exemplo, foi averiguado que nenhum desses municípios foi atendido, enquanto Lavras da Mangabeira foi agraciada com os primeiros 28 poços instalados em 2018”, afirmou o procurador Anastácio Tahim.

Dnocs

O diretor-geral do Dnocs, Ângelo José de Negreiros Guerra, disse, em depoimento à Procuradoria, que foi indicado para o cargo por Eunício Oliveira. Ele afirmou ainda que “tenta atender ambas as partes – entendidas como: comunidades necessitadas e pressão dos políticos“.

Quando questionado sobre a situação específica de Lavras da Mangabeira, o diretor não soube justificar o porquê da concentração de cerca de 30% dos poços no município, no ano eleitoral de 2018. Ele também desconhecia que a localidade somente fora enquadrada em situação emergencial em junho de 2018, por meio do Decreto Estadual nº 32.715 de 13/6/2016.

Além da suspensão do serviço de perfuração de poços no Ceará, o TRE determinou o recolhimento de todas as perfuratrizes e do maquinário no pátio do Dnocs até que o órgão discipline o uso racional e eficiente dos equipamentos de forma a garantir atendimento equânime e livre de intervenções eleitoreiras desse serviço. Também foi fixada multa por descumprimento da medida liminar, no valor de diário de R$ 1 mil.


Tribuna do Ceará