Tasso teme que nomeação do filho de Bolsonaro para embaixada contamine Previdência
16 de julho de 2019 às 10:26
Provável relator da reforma da Previdência no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) considera que, apesar de bem encaminhada, a proposta ainda corre riscos. A pressão que as bases eleitorais exercerão sobre os deputados nos próximos 15 dias, durante o recesso parlamentar, até a votação em segundo turno na Câmara, em agosto, é um fator que merece atenção.
Outro, os erros estratégicos cometidos pelo governo. Neste ponto, a possível indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, a embaixador no EUA tem potencial de contaminar o ambiente e atrapalhar a votação da mudança nas regras de aposentadoria, avalia Tasso. A escolha para o posto de embaixador tem que ser aprovada pelo Senado. “Quando vi a notícia a primeira vez, achei que era ‘fake’. O presidente deveria, sob todos os aspectos, pessoal, profissional, do país, refletir sobre essa inciativa. Com certeza isso não deveria vir no período em que estaremos discutindo a Previdência no Senado”, alertou Tasso. “Se colocar o nome do filho para votação no Senado, aí sim pode conturbar. O clima na reforma da Previdência pode ser contaminado”.
Para o tucano, tal possibilidade entra no rol das polêmicas desnecessárias nas quais Bolsonaro se envolve por ainda não ter entendido seu papel como mandatário da nação. “Se vier [a indicação de Eduardo a embaixador], mais uma vez reforçará a visão de que ainda não caiu a ficha de Bolsonaro de que ele é o presidente do Brasil. Que há assuntos gravíssimos a tratar e que tudo que ele diz ou faz tem implicações”.
Sobre o segundo turno da reforma na Câmara, Tasso tem falado com frequência com o relator, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP). Ambos compartilham da mesma preocupação. “Ele [Moreira] tem preocupação sim, por ter vivido esses dias sob muita pressão e sabe o poder que as corporações têm na vida política brasileira”, alega. “Eu sou precavido, sei como a Câmara funciona, os deputados voltam para suas bases e as corporações são sempre muito presentes nos Estados. É importante não cantar vitória antes da hora”.
A dificuldade do governo Bolsonaro em se relacionar com o Congresso, avalia Tasso, instituiu na prática o que ele chama de um “semiparlamentarismo” em que o Legislativo toca sua agenda mesmo que à revelia do presidente. O senador cita que o presidente disse coisas que desagradaram não só o Congresso, mas a opinião pública, sem que a reforma tenha sido perturbada. “As coisas estão andando no Brasil e estão andando por iniciativa do Congresso. A gente pode dizer que, nesses primeiros seis meses, muita coisa passou, apesar de um certo distanciamento do governo e o Congresso Nacional”, disse.
O texto aprovado pela Câmara manteve distinções indevidas a determinadas categorias, mas, para Tasso, foi o texto possível. Por isso, o tucano não proporá no Senado desfazer concessões dadas a policiais ou professores. “Continuaram certos privilégios, que eu não concordo, mas o presidente [da Câmara] Rodrigo Maia fez o que era possível. Olha, não é fácil você aprovar uma reforma da Previdência, mesmo que em 1º turno, em cinco meses”, afirma. “Em todas as discussões de reforma da Previdência, dá gás lacrimogêneo, janela quebrada, e aqui a gente conseguiu num tempo bastante acelerado”, ponderou Tasso.
Tais questões, contudo, terão de ser enfrentadas no futuro. “Eu não tenho dúvida que, daqui a dez anos, vamos ter que fazer outra reforma da Previdência. Há quem fale até daqui a cinco anos”, disse.
Para além da reinclusão de Estados e municípios, que considera ponto crucial, o provável relator está preocupado em fazer a reforma andar o mais rápido possível no Senado. “Uma PEC da Previdência que não inclua Estados e municípios vai ficar meio capenga. E cria um problema para as entidades federativas gigantesco, que se não estourar agora, vai estourar mais adiante. Temos obrigação de trabalhar isso agora”, disse. “Nossa prioridade é aprovar a reforma o mais rápido possível no Senado. O país não pode arrastar essa discussão até o fim do ano”, concluiu.
Com informações de Valor Econômico