General Theophilo quer levar “padrão militar” para escolas públicas do Ceará
21 de junho de 2018 às 08:51
O pré-candidato ao Governo do Estado, General Guilherme Theophilo (PSDB), quer levar o “padrão militar” às escolas públicas estaduais. Ele explica que isso não significa “militarizar” os colégios ou trocar seus diretores, mas capacitar a administração e estender a “educação de alta qualidade” das escolas militares a todas as outras.
A proposta foi defendida na terça-feira, 19, em bate-papo ao vivo no Facebook, entre Theophilo e o deputado estadual Capitão Wagner (Pros). Na ocasião, o pré-candidato afirmou que cogitava colocar militares na administração de escolas para melhorar a disciplina e ensino delas. A fala ganhou repercussões positivas e negativas, estas últimas principalmente entre a categoria de profissionais de educação, que questionaram a forma como ele faria isso.
Reginaldo Pinheiro, presidente da Apeoc, sindicato que representa os professores e servidores da Educação no Estado, criticou a medida e lembrou que os diretores de escolas estaduais são escolhidos por meio de uma eleição. “Essa é uma conquista que já existe há muitos anos, e está funcionando muitíssimo bem. Os diretores de escola são escolhidos democraticamente pela comunidade escolar, os professores, alunos e pais de alunos. Mudar isso seria descabido”, afirmou.
Ao O POVO, Theophilo disse que não pretende mudar todos os diretores, mas capacitá-los de acordo com o padrão das escolas militares. “Vai continuar tudo como já é, inclusive com esses diretores eleitos, mas nós vamos prepará-los para que entendam, conheçam e apliquem o padrão militar. Nós podemos levá-los para fazer um estágio, um curso de como são administrados os colégios militares”, esclareceu.
O “padrão militar” a que se refere diz respeito à “alta qualidade do ensino, profissionais qualificados, planejamento, foco nos resultados e indicadores de desempenho, além da forma de gestão da coisa pública, com muita transparência”, continuou. A ideia é ir implantando a mudança aos poucos.
Para Pinheiro, a proposta “demonstra um desconhecimento da realidade das escolas públicas estaduais”, que são mais de 700 e, segundo ele, têm dado um bom resultado. “Há várias escolas que não são militares e que têm se destacado muito, nos vestibulares e nos exames, as escolas profissionais, de tempo integral e inclusive algumas pequenas de municípios pequenos do Interior. Não é porque uma escola não é militar que ela tem problemas de disciplina”, argumentou.
Adriana Eufrásio Braga, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), disse que não sabe se a proposta é viável por trazer uma mudança “muito significativa da estrutura atual” das escolas. Ela não acredita que um gestor, só por ser de natureza militar, vai ser capaz de garantir mais disciplina e melhores índices.
“Não há uma garantia, eu não vejo uma repercussão positiva dessa proposta dele. Nós temos que ver onde há experiências similares que mostrem que há mesmo resultados positivos”, analisou a professora. De acordo com Theophilo, há uma experiência “piloto” em Juazeiro do Norte, que demonstra os bons resultados.
Adriana ressaltou, ainda, que os bons resultados de escolas militares podem não estar relacionados simplesmente ao caráter militar delas. “Os alunos dos colégios militares já têm uma estrutura socioeconômica que favorece que ele tenha um melhor desempenho”, argumentou.
Para a professora, não basta incluir uma “formação militar”. “Na escola pública regular, há uma diversidade na problemática que os professores e diretores enfrentam, há um contexto social, a região ou bairro onde a escola fica”, concluiu. Theophilo, porém, insistiu que “é possível” que essas escolas obtenham o mesmo padrão. “É só trabalhar bem com as crianças e os jovens”, defendeu.
(O POVO – Repórter Letícia Alves/Foto – Alex Gomes)