Comandante da 10ª Região Militar diz que intervenção é "enorme retrocesso"
06 de junho de 2018 às 08:52
O desejo por uma intervenção das Forças Armadas no Governo Federal não é tema de discussão entre oficiais e praças da 10ª Região Militar (10ª RM). Nem em Fortaleza, capital onde está sediado o comando no Forte de Nossa Senhora da Assunção, nem no Piauí – estado que completa parte desta jurisdição do Exército no Nordeste. De acordo com o general José Soares da Cunha Mattos, 58, comandante da 10ª RM, seus homens não têm tempo para ficar discutindo o que ele reforça ser um “enorme retrocesso”.
O general “assegura que esse tema não é tratado nos quartéis da área da 10ª RM, mesmo porque oficiais e sargentos têm seu tempo voltado exclusivamente para o cumprimento das missões a eles atribuídas”. Ele cita operações como a recente Garantia da Lei e da Ordem (GLO), fruto da mobilização dos caminhoneiros, e a permanente vertente das atribuições subsidiárias – como Operação a Carro Pipa e as obras de Engenharia.
Cunha Mattos faz dele as declarações do Comandante do Exército do governo de Michel Temer (PMDB), o também general Villas Bôas, 61, para se declarar contrário a qualquer possibilidade de um golpe militar no Brasil. Para ele, “a Constituição Federal Brasileira há de ser sempre solução para todos os desafios institucionais do País. Não há atalhos fora dela”. E que “há chance zero de setores das Forças Armadas, principalmente da ativa, mas também da reserva, se encantarem com a volta dos militares ao poder”, diz repetindo seu chefe em Brasília.
Em nota enviada ao jornal O POVO, o comandante da 10ª RM fica mais uma vez à sombra das declarações públicas de Villas Bôas para dizer que os apelos por intervenção militar mostram a desesperança das pessoas na política. “Mas as Forças Armadas estão cientes das suas responsabilidades como instituições permanentes e regulares na garantia dos poderes constitucionais”. “Interpreto aí alguma identificação da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam”, diz.
No último domingo, ao jornal O POVO, o general da reserva Manoel Theophilo Gaspar, 68, afirmou que a única intervenção militar possível seria pela disputa do voto nestas eleições. O cearense Manoel Theophilo é um dos idealizadores da frente nacional de militares das Forças Armadas que se candidatarão a cargos de governador, senador, deputado estadual e federal.
Por enquanto, são 81 candidatos em 26 estados. No Ceará são dois. O irmão de Manoel Theophilo, o general Guilherme Theophilo, 63, é o escolhido do senador Tasso Jereissati (PSDB) para disputar a sucessão do governador Camilo Santana (PT) que concorrerá à reeleição. O coronel da reserva Ricardo Bezerra (PSL) é o outro militar cearense. Ele quer vaga na Câmara Federal.
Segundo o general Manoel Theophilo a frente de candidatos das Forças Armadas é uma tentativa de moralizar o Congresso ou de se fazer contraponto “à péssima política”. Porém, ele não acredita — mesmo com essa onda de revolta “contra a corrupção” — que a maioria dos candidatos militares seja eleita este ano. “Ainda há o voto de cabresto. Pode ser que no futuro ninguém mais venda o voto e sejam eleitas pessoas honestas. O povo também é responsável por esse ciclo vicioso”, analisa.
O Povo