Ciro Gomes já trocou 7 vezes de partido em 36 anos de carreira política
O ex-ministro assinou a ficha de filiação ao PDT nesta semana, saindo do Pros. O troca-troca de partidos evidencia a fragilidade política brasileira
18 de setembro de 2015 às 11:27
Durante filiação ao PDT, Ciro Gomes anunciou a possível candidatura à Presidência da República (FOTO: Agência Brasil/Marcello Casal Jr.)
O troca-troca partidário é uma característica marcante na carreira política do ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes. Na última quarta-feira (16), o cearense assinou a ficha de filiação ao PDT, saindo do Pros. A mudança representa a sétima vez em que o pré-candidato à Presidência da República prepara as malas para um novo partido político.
Ciro Gomes iniciou a carreira política no PDS (Partido Democrático Social), legenda sucessora da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à Ditadura Militar Brasileira. Em 1982, foi eleito deputado estadual. Um ano depois, trocou de legenda, passando para o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), sendo reeleito em 1986.
Em 1988 migrou para o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), onde foi eleito prefeito de Fortaleza e governador do Ceará. Opondo-se à aproximação da legenda ao Partido da Frente Liberal (PFL), Ciro Gomes rompeu com o PSDB e se filiou ao recém-criado PPS (Partido Popular Socialista), em 1996.
Após sete anos, por discordar da oposição da legenda ao governo federal, passou para o PSB (Partido Socialista Brasileiro). Em 2013, saiu do partido em razão da candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República em 2014. Ajudou, então, na fundação do Pros (Partido Republicano da Ordem Social). Em setembro de 2015, o ex-ministro decide deixar o Pros e se filiar ao PDT (Partido Democrático Trabalhista), numa clara manifestação de que a mudança se deu, entre outras razões, para concorrer à presidência em 2018.
A exemplo do irmão mais velho, o ex-governador Cid Gomes também circulou ao longo da carreira por diversos partidos políticos. Nos anos 1980, ingressou no PMDB. No final da década, migrou para o PSDB. Nos anos 90, entrou no PPS, mas deixou a sigla na década de 2000 para se filiar ao PSB. Em razão dos desentendimentos com Eduardo Campos, também saiu da legenda para fundar o Pros. A filiação dele ao PDT está prevista para ocorrer em 28 de setembro.
Fragilidade dos partidos
De acordo com o cientista político Horácio Frota, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a situação de mudanças constantes de legendas decorre do sistema político brasileiro, cuja característica é a fragilidade dos partidos que, historicamente, foram criados para unir correntes ideológicas. “Isso faz com que a escolha por um determinado candidato seja muito mais pessoal, individual, do que partidária. É mais um compromisso do eleitor com o candidato do que com o partido. Infelizmente, a nossa política vem se constituindo dessa forma”, reflete.
Somente quando houver partidos fortes, com objetivos claros e definidos e em que os representantes estejam coerentes com as propostas, o processo terá maior controle, segundo o professor. “A forma como está posta enfraquece a democracia. Os eleitores do Cid e do Ciro, por exemplo, não estão se preocupando muito com o ‘troca-troca’ não, porque nunca tivemos uma construção política que consolidasse as ideias de um partido”, lamenta.
Para ele, a substituição de legendas continuará a acontecer enquanto não houver uma reforma política de fato, com participação popular. “É preciso mais do que mudanças pontuais, deve ser feito um trabalho muito maior. O Congresso chama as discussões somente para si e se rebela ardorosamente contra a participação popular na reforma política. É um desafio que temos. Enquanto isso continuar acontecendo, as grandes questões também permanecerão sem modificações”, conclui.
“Janela” para mudança de partido
Atualmente, é aguardada decisão final do Congresso sobre a reforma política. O projeto prevê a criação de uma “janela” de 30 dias possibilitando que deputados ou vereadores mudem de partido sem perder mandato. A janela será aberta um mês antes do fim do período de filiação partidária, ou 13 meses antes das eleições.
Pelas regras atuais, os parlamentares só podem mudar de partido sem correr risco de perder o mandato se forem para uma legenda recém-criada – exceto no caso de eleições majoritárias, como senadores e prefeitos. O objetivo da emenda aprovada no PLC 75 é evitar que sejam criados partidos políticos apenas para abrigar parlamentares insatisfeitos com seus atuais partidos.
Tribuna do Ceará
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