Traficantes buscam locais com irrigação e margens do São Francisco para plantar maconha
11 de maio de 2018 às 15:52 - Atualizado em 11/05/2018 15:53
A localidade de São João Operário, na zona rural de Esplanada, no Nordeste da Bahia, era sobrevoada por um drone, quando as imagens mostraram à Polícia o que já vinha sendo procurado: uma plantação de maconha. A ‘lavoura’ rendeu 1,5 tonelada da erva, avaliada em R$ 2,2 milhões. Apreensões assim aconteceram pelo menos 14 vezes este ano, conforme vem sendo divulgado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
Quem erradicou essa plantação mais recente, na última quarta-feira, 9, foram equipes da Coordenação de Operações Especiais (COE) e do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), da Polícia Civil da Bahia. Mas as investigações começaram bem antes. No ano passado, durante a operação Conhecer, Operar e Aproximar (COA), que aconteceu em Lauro de Freitas, um dos suspeitos disse à Polícia que havia maconha plantada em Esplanada.
As primeiras informações da SSP da Bahia são de que a plantação pertencia a João Cleison Carvalho, o Didi, preso este ano em Maceió (AL). Didi, um velho conhecido da polícia (leia mais ao lado), é líder de uma quadrilha que atua na região.
Rio São Francisco
A região de Esplanada, aliás, é uma das poucas onde houve apreensão este ano e que não ficam próximas ao rio São Francisco. Das nove cidades, cinco são margeadas pelo Velho Chico. A presença de rios facilita o cultivo da maconha, explica o delegado Marcelo Sansão, diretor do Draco.
"Temos plantio no Brasil até por termos um clima favorável, tanto que a maconha necessita de uma irrigação constante. Ela tem que ser irrigada de manhã, normalmente, e à noite", explica.
Isso faz com que áreas onde existam rios e lagos ou, ainda, que possam fornecer água subterrânea, sejam mais visadas pelas quadrilhas.
Os locais escolhidos normalmente são escondidos. São áreas que dificultem a visualização, mesmo com sobrevoo. No entanto, a polícia costuma observar justamente essas regiões – próximas a margens de rios e lagos.
Este ano, além de Esplanada, plantações foram erradicadas em Juazeiro, Vera Cruz, Seabra, Abaré, Xique-Xique, Santa Brígida, Ibitiara e Sento Sé. Duas apreensões foram feitas em quintais de residências e, no caso de Esplanada, não há um total de pés encontrados. Nos demais locais foram achados mais de 143 mil pés de maconha.
As estruturas mantidas pelas quadrilhas são grandes. “Já teve situações de pegarmos estruturas de irrigação altamente sofisticadas. É costumeiro que eles façam acampamentos dentro do plantio para não chamar atenção”, diz.
Roça invadida
Mas, ao chegar com os policiais, a surpresa: no lugar de hortaliças, havia 1,6 mil quilos de maconha pronta para consumo. A situação aconteceu no povoado de Quixaba, na zona rural do município. Os dois homens acabaram presos no mesmo dia: Laurêncio Alípio, 45 anos, e Sebastião de Barros. Os traficantes já tinham feito o plantio há pelo menos seis meses e já tinham colhido mais de 500 pés, irrigados em sistema de gotejamento.
Laurêncio era ex-caseiro da roça onde plantava a maconha e tinha sido visto no local no dia anterior por um funcionário do agricultor - foi o que levantou a suspeita da polícia. Ele e o comparsa confessaram o plantio. "Eles não fazem parte de facção e comercializam na própria região. O quilo da droga pronta custa de R$ 400 a R$ 500", contou um tenente.
Outras cidades da região também enfrentam o problema. É o que diz o delegado Felipe Neri, coordenador da 19ª Coorpin (Sento Sé), que aponta Campo Formoso como local onde a ação é recorrente: "Porque é muito grande, sempre em locais de mata fechada, que fica difícil chegar, saber dono", explica.
O delegado Marcos Alessandro, da 13ª Coorpin (Senhor do Bonfim), explicou que os responsáveis por esse tipo de plantação não costumam ficar nos locais - apenas pessoas contratadas por eles cuidam do cultivo: "Eles fazem um acampamento bem precário, onde as pessoas vão morar lá quase 24 horas. Normalmente, os acampamentos têm apenas um fogão, botijão de gás e as comidas para serem preparadas lá".
Rentável
Velho conhecido
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