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Subtenente que fez desabafo sobre mortes de colegas é advertido pela Polícia Militar

Para a Associação de Cabos e Soldados, a atitude do Comando da PM desrespeita a Constituição Federal, que garante a livre expressão

22 de fevereiro de 2016 às 15:14

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Subtenente Mardônio desabafou durante funeral de soldado do Raio morto em assalto (FOTO: Reprodução/TV Jangadeiro)

O subtenente Mardônio Aguiar Costa, que desabafou sobre a onda de mortes de policiais no Ceará, em entrevista ao programa Barra Pesada, da TV Jangadeiro/SBT, foi advertido pela Polícia Militar por falar publicamente sem autorização da corporação. A informação foi confirmada ao Tribuna do Ceará pela Associação de Cabos e Soldados.

Na entrevista, o militar, que já atua na profissão há 30 anos, admitiu estar cansado de enterrar colegas de trabalho. A declaração foi dada após enterro do soldado do Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio), cuja morte aconteceu no último dia 12, ao reagir a assalto em Fortaleza.

De acordo com o presidente da Associação, sargento Eliziano Queiroz, o subtenente foi convocado a comparecer ao Comando Geral da Polícia Militar do Ceará, na última terça-feira (16). O objetivo seria explicar a entrevista, que já conta com mais de 2 milhões de visualizações.

“Ele foi orientado a pedir autorização da assessoria da Polícia Militar para toda e qualquer entrevista que for dar. O vídeo teve repercussão nacional. E nós, da Associação, nos preocupamos e oferecemos assessoria jurídica”.

O subtenente Mardônio, que não sofreu sanção disciplinar, foi advertido e avisado de que existem diretrizes na Polícia Militar, devendo informar a data, o local, o horário e o assunto quando houver uma nova entrevista. Para o presidente, expressar um sentimento em uma entrevista é algo normal na corporação. “Isso hoje é normal, contanto que seja imparcial e relate sempre a verdade”.

Segundo nota divulgada pela Associação de Cabos e Soldados, a atitude do Comando Geral da Polícia Militar desrespeita o artigo 5º, inciso IV da Constituição Federal de 1988.

“O artigo determina a livre manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. O subtenente Mardônio, que na sua fala não fez críticas ao comando da corporação, só falou algumas verdades sobre o sistema de segurança pública do Brasil”, disse a nota.

O relações públicas da Polícia Militar informou ao Tribuna do Ceará que não se pronunciará sobre o assunto.

Entrevista do subtenente

Na entrevista concedida à TV Jangadeiro/SBT, o subtenente Mardônio disse estar cansado de enterrar policiais. “Estou ficando esgotado de tanto vir ao cemitério enterrar ‘irmão de farda’. São 30 anos trabalhando na rua, no dia a dia, saindo de casa sem ter a certeza de que vou voltar. Tudo isso para defender a vida de pessoas que eu não conheço, mas é meu dever e minha obrigação”.

Ele falou ainda sobre a necessidade de mudança das leis do Brasil, com punições mais severas aos que cometem crimes. “Eu nunca vi mudarem as leis. Nós estamos prendendo bandido que, com poucos dias, vamos ver novamente nas ruas, assaltando, matando, traficando, estuprando. Um maior de idade ainda passa um ou dois meses na cadeia. Mas um adolescente passa um dia ou dois e está na rua de novo, praticando as mesmas barbaridades que cometeu antes de ser apreendido”.

Tribuna do Ceará