Preso acusa quatro policiais civis de apoio ao tráfico
Um delegado da Polícia Civil e mais três policiais dariam segurança a traficantes investigados na Operação Cardume
20 de julho de 2016 às 08:08
A delação de Lindoberto de Castro veio a público nesta terça-feira, durante audiência para ouvir sete testemunhas de acusação do processo que apura a responsabilidade de 28 pessoas denunciadas pelo procurador federal Lino Edmar de Menezes, por tráfico internacional de drogas e outros crimes.
No depoimento de quase três horas do delegado federal Janderlyer Gomes de Lima, que comandou as investigações da Operação Cardume, a narrativa e indicações de provas de Lindoberto reforçaram o trabalho que vinha sendo feito pela Polícia Federal (PF) em cima de um consórcio de traficantes internacionais de drogas e armas que operavam entre a Bolívia, Paraguai, Fortaleza, Portugal e Itália.
Lindoberto de Castro, preso com a deflagração da Operação Cardume, em março de 2015, acabou confessando a participação nos crimes que envolviam a quadrilha que movimentou milhões com o tráfico. Relacionou nomes e como a organização criminosa se movimentava para lavar o dinheiro sujo das das drogas. Antes da delação, a PF tinha um vasto material de prova colhida via interceptações telefônicas, acompanhamento de suspeitos, aqui e fora do Brasi,l e documentação apreendida.
Ao O POVO, Janderlyer de Lima afirmou que as acusações contra os policiais foram encaminhadas para a abertura de outra investigação. Na época, o delegado estava à frente da Delegacia Federal de Repressão a Entorpecentes. Hoje, é chefe da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros.
Segurança policial
Em um dos trechos da delação, Lindoberto afirma que os quatro policiais civis dariam cobertura ao transporte das cargas de drogas no Ceará. Em Fortaleza, diz o traficante, teria havido apoio de segurança para o transporte de um carregamento de 5 mil quilos de maconha, 100 kg de cocaína, 100 kg de crack e seis armas (fuzis e pistolas). A encomenda teria sido levada de Fortaleza para Itaitinga, município da Região Metropolitana de Fortaleza, onde está situada a maior parte dos presídios do Estado.
A paga pela segurança dos policiais, que teriam participado de mais de uma ação com os traficantes, seria a propina que variava de R$ 50 a R$ 100 mil. “Não sei em que estágio estão essas investigações”, afirmou o delegado Janderlyer de Lima.
Risco de morte
Após a delação de Lindoberto de Castro, o advogado Artur Júnior, pediu em “caráter de urgência” a transferência do traficante de presídio que não oferecia segurança para outra unidade no Ceará. Em maio deste ano, o juiz federal Danilo Fontenele ecaminhou a solicitação à Secretaria da Justiça do Ceará (Sejus).
A transferência foi autorizada pelo juiz estadual Cézar Belmino, da Corregedoria dos Presídios e Estabelecimentos Penitenciários da Comarca de Fortaleza. No entanto, com as rebeliões no sistema penitenciário cearense, em maio último, e a falta de controle da situação por parte da Sejus, Linbdoberto de Castro foi posto em um área que “corre risco de morte”. Segundo o advogado Artur Júnior, é necessário que ele seja transferido urgentemente para um local onde possa “usufruir de seu benefício recebido por causa do acordo de colaboração premiada”. Sob pena de o Estado responder por qualquer dano à sua vida.
O Povo