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Policiais cobravam entre R$ 4 mil e R$ 10 mil para barrar investigações contra facções criminosas

17 de setembro de 2020 às 09:10

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Com investigações iniciadas em 2016, o Ministério Público do Ceará (MPCE) descobriu um esquema de extorsão realizado por agentes de segurança pública, com ação de policiais civis e militares. A organização tinha o objetivo de extorquir facções criminosas para não dar seguimento às prisões ou às investigações de inquéritos e ocorrências. O grupo cobrava entre R$ 4 mil e R$ 10 mil para interromper as apurações. Nesta quarta-feira, 16, a operação batizada de Gênesis cumpriu 17 mandados de prisão e outros 17 de busca e apreensão em bairros de Fortaleza e em Maracanaú contra policiais. Segundo o MPCE, um policial civil aposentado liderava a quadrilha.

Os agentes são acusados de organização criminosa, extorsão e comércio ilegal de armas de fogo. Entre os alvos estão nove policiais militares da ativa, três policiais civis da ativa e um policial civil aposentado, apontado como o líder da organização criminosa. Além de quatro homens suspeitos de atuarem como traficantes. Os mandados foram expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas e pela Vara da Auditoria Militar do Estado do Ceará. Os militares presos seguiram para o presídio militar e os quatro homens para a Delegacia de Capturas e Polinter (Decap).

A investigação

“Nos deparamos, no decorrer da investigação, com duas prisões preventivas e dois mandados de prisão contra policiais civis; oito mandados de prisão contra militares, ainda resta cumprir um; e cinco pessoas suspeitas de tráfico de drogas atuando em conjunto”, informa Rinaldo Janja, promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), órgão vinculado ao gabinete do Procurador Geral de Justiça do Ceará, que investiga as organizações criminosas. As apurações iniciaram com a atuação de grupos organizados no Estado e, no decorrer as investigações, se depararam com a quadrilha e a atuação dos policiais.

As prisões foram cumpridas por agentes do Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio), do Batalhão de Polícia do Choque (BPChoque), e contou com a colaboração da Coordenadoria Geral de Disciplina (CGD). “Nosso trabalho representa a união do MP e das forças de segurança para o combate às organizações criminosas contra traficantes, associados ao tráfico e também contra maus policiais que envergonham as forças de segurança pública. Já que as Polícias Civil e Militar, em sua grande maioria, é composta por pessoas comprometidas com a honestidade, probidade, com o serviço público e com a segurança”, comenda o promotor.

Uma das características da criminalidade organizada, ainda de acordo com Janja, é buscar ter a conivência de um braço do Estado. Os grupos organizados funcionam e buscam sempre ter gente do Estado para facilitar a sua atuação. “Estávamos investigando os faccionados e nos deparamos com os policiais praticando crime no decorrer das investigações”, conta.

A organização criminosa funcionava, de acordo com o promotor de Justiça Adriano Saraiva, componente do Gaeco, escolhendo uma pessoa com um certo poder aquisitivo para que as extorsões fossem feitas. A vítima, ainda segunda o promotor, geralmente um traficante ou agiota, tinha toda a vida estudada pelo grupo: vida pregressa, antecedentes criminais, posses e bens, usando inclusive o sistema da Polícia para adquirir informações. "Com o levantamento pronto, a quadrilha organizava a atuação e usava inclusive viaturas da PM para que a suposta prisão tivesse ares de legalidade", afirma o promotor.

Lavagem de dinheiro

“Verificamos que uma das pessoas envolvidas no crime, um policial militar, tinha um estabelecimento que era usado para lavar o dinheiro da ação”, informa Saraiva.  Os policiais civis foram denunciados por associação criminosa e comércio ilegal de armas. Ainda de acordo com o promotor, os agentes da PC se juntavam a essa organização criminosa e a outros traficantes para fazerem as extorsões. “Eles (os agentes da polícia civil) não tinham uma vinculação perene com essa organização. Usavam também outras organizações”, detalha o promotor. 

O procurador Geral de Justiça, Manuel Pinheiro, afirmou ser um enorme desafio para a sociedade brasileira enfrentar o crime organizado. “Em todas as organizações humanas há pessoas que cometem desvio de conduta e, de maneira nenhuma, a atuação desses policiais civis e militares pode manchar a imagem de instituições tão sérias, composta por pessoas dedicadas que todos os dias saem de casa para arriscar a vida em nome da nossa segurança”, finaliza.