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Mulheres decapitadas: mandante pediu que execuções seguissem modelo 'Estado Islâmico'

28 de fevereiro de 2019 às 08:46 - Atualizado em 28/02/2019 08:46

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Nara Aline Mota de Lima ainda estava viva quando foi degolada. Morreu com camisa de gola polo, o cabelo loiro curto e o corpo magro manchados de sangue, aos 23 anos, às vésperas do Dia Internacional da Mulher de 2018. Antes disso, levou uma surra com uma pá e teve dedos e braço decepados. Uma interceptação telefônica descrita na denúncia apresentada pelo Ministério Público mostra que o modo de execução foi ordenado por um homem encarcerado numa unidade prisional.

Segundo a promotora Joseana França, o réu Francisco Robson de Souza Gomes, 27, conhecido como 'Mitol', deu a ordem a seu braço direito, Jeilson Lopes Pires, o 'Jê', 23. A morte de Nara deveria seguir o modelo do grupo 'Estado Islâmico', internacionalmente conhecido pelo extremismo. A cena do cumprimento foi amplamente compartilhada e, ainda hoje, permanece como prova da barbárie que se tornou a briga de facções pelo domínio de territórios.

"O 'Mitol' era o cabeça que, dentro do presídio, entrava em contato com o Jeilson. Esse filmava e determinava o que cada um ia fazer. Duas delas foram mortas por decapitação, o laudo cadavérico fala", detalha França. O agravante é que o facão utilizado na execução, comumente usado como instrumento cortante, estava cego, ou seja, se tornou corto-contundente. "Eles usaram como se fosse um machado", sintetiza a promotora.

Quase um ano após o crime, que também vitimou Darcyelle Ancelmo de Alencar, 31, e Ingrid Teixeira Ferreira, 22, cinco denunciados foram julgados no Fórum Clóvis Beviláqua. Nas cadeiras do 1º Salão do Júri, sentaram, além de Jeilson, Bruno Araújo de Oliveira, o 'Bilouco', 24; Júlio César Clemente da Silva, o 'Léo Bifão', 29; e Rogério Araújo de Freitas, o 'Chocolate', 26. Preso na Penitenciária de Campo Grande (MS), 'Mitol' foi ouvido por videoconferência. Até o fechamento desta matéria, o júri dos cinco réus ainda não tinha sido concluído.

Crueza

Segundo a denúncia do Ministério Público, por volta das 13h40 do dia 2 de março, as vítimas foram arrebatadas da casa que dividiam, na Barra do Ceará, e levadas a um manguezal no Vila Velha, onde se iniciou a sessão de torturas. Darcyelle, companheira de Nara, ainda estava de pijamas. A motivação: Nara seria ligada a um grupo rival ao dos acusados. Já Ingrid "morreu de graça", segundo a promotora, apenas porque estava na residência das duas mulheres no momento em que os executores chegaram.

Após as mortes, os homens ocultaram os cadáveres numa ilhota dentro do Rio Ceará, localizada a mais de um quilômetro da margem. Como a maré subiu, as equipes de resgate só conseguiram acessar o local a barco, quatro dias depois. Na tarde do crime, a situação era semelhante. Os executores voltaram nadando, segundo 'Léo Bifão'.

No interrogatório, o réu disse que não participou da "torturação", mas estava perto de Darcyelle e Ingrid enquanto Nara Aline era agredida. Durante os horrores, muitos integrantes usavam maconha e cocaína e ingeriam cachaça. "Me disseram: já que tu não quer fazer nada, vai pelo menos para ali", conta. Ele afirma que foi Bruno quem começou a cortar os membros de Nara, que também levou um tiro. Já Ingrid, a 'Índia', foi atingida no rosto, morta "pra não deixar testemunha".

Darcyelle e 'Índia' chegaram a pedir que 'Léo Bifão' interviesse, mas ele sabia que, se o fizesse, também seria morto. Ele declarou que há mais pessoas envolvidas no crime, incluindo o irmão de Jeilson, Jonathan Lopes Duarte, o 'Mobilete' - que será julgado em outra ocasião, segundo a promotora -; outros dois homens, 'Paulista' e 'Dedê', e uma mulher chamada 'Vitória'. 'Léo Bifão' diz ainda ter sido ameaçado por Jeilson ao encontrá-lo no Fórum.


Com informações do Diário do Nordeste