‘Vai faltar dinheiro’, diz reitor da UFC sobre corte no orçamento de 2021
11 de agosto de 2020 às 09:42 - Atualizado em 11/08/2020 09:43
A Universidade Federal do Ceará (UFC) enfrenta cortes orçamentários e a perda de bolsas de pesquisa e extensão desde 2019. Para 2021, a perspectiva também não é animadora. O reitor da instituição, Cândido Albuquerque, que completa um ano à frente das atividades no fim deste mês, afirmou ao G1 que novos cortes de verbas já foram iniciados pelo Ministério da Educação (MEC) e que o cenário de crise, provocado pela pandemia do coronavírus, deve se agravar.
“Os efeitos econômicos serão ainda mais amargos a partir de outubro ou novembro. O Estado está arrecadando pouco, os municípios estão em dificuldade, e a União vai ter de socorrer. Vai faltar dinheiro. Já estamos preparados na UFC para enfrentar uma grande crise”, explica o reitor.
Segundo ele, na última semana, o MEC já realizou um “corte significativo” no orçamento da Universidade para 2021, mas sem entrar em números. “E é só o começo: outros virão. É um cenário difícil; temos de saber administrar os recursos para a qualidade da Universidade não cair e para que os alunos vulneráveis continuem sendo amparados”, adianta.
Apesar da redução no orçamento, está nos planos da gestão o início do funcionamento do campus da UFC em Itapajé, a cerca de 125 Km de Fortaleza, ainda no primeiro semestre do próximo ano. O equipamento está construído e fechado há três anos, segundo o reitor. Será o oitavo campus da Universidade, que tem três na Capital e um nas cidades de Sobral, Quixadá, Crateús e Russas, cada.
“Sexta-feira (15), vamos nos reunir com autoridades locais para definir quais cursos vamos implementar lá. Depois disso, vamos inaugurar concursos que atendam anseios da região”, ressalta. A operação será possível, diz o reitor, por uma redução de custos na Universidade, com medidas como a venda de carros e o uso de energia solar.
Ao todo, R$ 20 milhões devem ser investidos para concluir o campus de Itapajé e outras obras que “estão paradas há seis ou sete anos”. Parte do montante também será canalizado para a conclusão de três laboratórios com construção interrompida. “Se queremos empreender e pesquisar, não podemos permitir isso”, ressalta o reitor.
Mudanças na pandemia
Cândido Albuquerque considera que a pandemia mostrou que a Universidade “tem uma capacidade de pesquisa muito maior do que se imaginava”. Dentre as iniciativas, ele elogia a criação do Elmo, capacete de respiração assistida para reduzir o tempo de hospitalização de pacientes com Covid-19, em conjunto com outras entidades cearenses.
Para o reitor, a continuidade das pesquisas teve apoio importante dos recursos tecnológicos, com o emprego de aulas à distância, novas plataformas de ensino e a adesão de professores antes inexperientes à área virtual. No entanto, a manutenção das atividades remotas é também a principal discussão em curso na Universidade.
De um lado, a administração já informou que a UFC vai ter atividades virtuais mesmo quando o Governo do Ceará liberar o retorno às aulas presenciais. Por outro, representações estudantis e docentes denunciam que nem todos têm equipamentos adequados ou acesso à internet de qualidade para assistir aulas e desenvolver projetos, caracterizando um cenário exclusivo para estudantes em situação de vulnerabilidade.
Albuquerque rebate as críticas e diz que, por meio de diagnóstico, a Universidade constatou que “alguns alunos vulneráveis tinham conexão de má qualidade”. Segundo ele, até o momento, foram registrados menos de 100 trancamentos, “e um número assustador de novas matrículas e turmas”.
De acordo com o reitor, além da implantação de sistema Wi-Fi nas residências universitárias, foram distribuídos 6 mil chips de alta velocidade para estudantes selecionados, e um auxílio digital para que eles pudessem comprar equipamentos próprios. “Durante esse período, desenvolvemos a maior ação de inclusão digital da história da UFC. Se não fosse a pandemia, essa ação iria demorar”, alega.
Novo calendário
Para a conclusão do semestre 2020.1, garante Cândido, foram analisadas quais atividades poderiam ser feitas inteiramente remotas, as híbridas e quais teriam obrigatoriedade da forma presencial. “Demos liberdade aos nossos professores para cada um apresentar seu planejamento para terminar o semestre, considerando as características da sua disciplina e de seus alunos”, ressalta o reitor.
Conforme o planejamento, o semestre deve ser finalizado no mês de outubro. O período 2020.2 será iniciado entre novembro e dezembro, “após um pequeno período de férias, para os professores se organizarem e planejarem”, e durar até “março ou abril” de 2021.
“Só vamos regularizar o ano letivo em 2022. Até porque temos o Enem e o Sisu, não dá para começar o semestre 2020.2 sem termos os alunos. Mas vamos reduzir muito os prejuízos que a pandemia poderia causar: não haverá supressão de tempo nem de conteúdo”, certifica Cândido Albuquerque.