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Nove a cada dez professores do Ceará não tinham experiência com ensino remoto, aponta pesquisa

23 de julho de 2020 às 08:37 - Atualizado em 23/07/2020 08:37

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O ensino remoto tem impactado professores cearenses e de todo o Brasil durante a pandemia de Covid-19. No Ceará, 91% dos docentes do ensino básico nunca haviam ministrado aulas remotas.

Outros 62% afirmam que não estão recebendo formação ou suporte das instituições para realização do trabalho online. Os dados são da pesquisa “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia”, realizada em diversos estados brasileiros pelo Grupo de Estudos Sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

O estudo buscou traçar condições de trabalho, relação com os estudantes, formação profissional e impactos na saúde mental dos docentes no cenário atual.

Mais de 15,5 mil professores responderam ao questionário online, entre 8 e 30 de junho. Do total, 2.235 são cearenses, a maior amostra entre todos os estados. Mulheres formam a maioria do público que respondeu, com 84%. Do total, 89% dos participantes atuam em escolas municipais (5% em estaduais, 5% em ambas e 1% em federais).

Além disso, 41% atuam nos anos finais do ensino fundamental, 29% na educação infantil e outros 22% nos anos iniciais do EF.

Adriana Borges, professora e pesquisadora do Gestrado, avalia que os resultados mostram impactos de uma adaptação forçosa e repentina ao ensino online.

“Nesse momento, é como se eles tivessem que trocar o pneu com o carro em movimento. A tecnologia sempre foi subutilizada nos sistemas educacionais. E a questão não é só utilizar os equipamentos, mas como estabelecer um processo educacional com um aluno que não está presente. Os professores não foram ensinados”, pondera.

Sem suporte

Além de deficiências nas formações inicial e continuada para utilização da tecnologia no ensino, professores não têm tido suporte no momento atual. Para 61,9% dos cearenses, o processo de dar aulas online é tocado por conta própria. Outros 16,4% dizem ter acesso a tutoriais online sobre como utilizar as ferramentas virtuais; 9,5% têm formação oferecida pela Secretaria da Educação; 7,2% são assistidos por outra instituição; e 4,9%, pela própria escola.

A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) garante que “tem apoiado alunos e educadores para o uso de aparatos tecnológicos a fim de facilitar a conexão e a operacionalização dos recursos digitais neste período de ensino domiciliar”. Segundo a Pasta, um “Guia de Apoio aos Estudos Domiciliares” foi criado, “com o objetivo de compartilhar estratégias pedagógicas para estabelecer rotinas de estudos e de aprendizagem”.

Ainda conforme a secretaria, têm sido ofertadas, por meio da Coordenadoria de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED), “oficinas voltadas aos professores sobre planejamento de aulas virtuais, para dar suporte aos educadores e escolas no processo de migração emergencial para um ensino remoto”.

A Secretaria Municipal de Educação (SME) de Fortaleza também foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Efeitos no aprendizado

Carmensita Matos, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em formação de professores e trabalho do educador em sala de aula, confessa que o cenário “não surpreende”. “Antes da prioridade de trabalhar da forma remota, há outras tantas na educação brasileira que não foram atendidas ainda. Como se esperar que essa já tivesse sido atingida, do ponto de vista de os professores estarem preparados para ela? Não só os professores, mas uma boa parte dos profissionais não estava preparada”.

Os estudantes também não estavam: 82% dos professores do Ceará que participaram da pesquisa concordam que a participação dos estudantes diminuiu durante as aulas remotas, principalmente porque não têm acesso à internet ou aos demais recursos. O impacto do cenário na aprendizagem, segundo Adriana Borges, é forte.

“As desigualdades sociais e educacionais vão aumentar muito. Além do acesso desigual dos alunos à tecnologia, a falta de formação e experiência dos professores com o modelo de ensino remoto reflete no aprendizado. Vai demorar pra gente recuperar e reorganizar todo o contexto da educação, a estabilização não vai ser imediata ao fim da pandemia”, projeta.