Três professores do Ceará possuem maiores salários entre os servidores públicos do Brasil
Apesar das remunerações brutas que beiram os R$ 50 mil, os servidores não podem embolsar toda a quantia devido o abate-teto previsto por lei
11 de agosto de 2015 às 09:43
Uma vaga em um grande órgão público, estabilidade e bom salário é o desejo de todo profissional. Mas para conseguir tal posição não é fácil. As raras vagas para servidores públicos fazem com que milhares de pessoas passem noites em claro devorando livros para obter aprovação em concursos pelo país. São os famosos “concurseiros”.
Quem chegou lá, colhe os louros da dedicação. Na lista de mais de 600 mil servidores federais do país, três professores universitários do Ceará estão entre aqueles com maiores salários de acordo com dados obtidos por meio do Portal da Transparência que são auditados pela Controladoria Geral da União (CGU). Gil de Aquino Farias, José Neudson Bandeira e Maria Elias Sores possuem lugar destaque principalmente pela carreira acadêmica.
Apesar das remunerações brutas que beiram os R$ 50 mil, os servidores não podem embolsar toda a quantia devido o abate-teto previsto por lei. Em 2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que aumentou de R$ 26.723,13 para R$ 28.059,29 o valor do subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que era o teto do funcionalismo público. Mas neste ano já houve um novo reajuste e o valor mudou para R$ 33.763,00.
O valor, que entrou em vigor no último dia 1º, representa um aumento de 14,6% sobre o salário anterior, de R$ 29.462,25. Ele também deve criar uma espécie de efeito cascata, pois serve de referência para a definição dos salários de juízes, promotores, deputados federais e estaduais, senadores, secretários, governador, vice-governador, prefeitos e vereadores.
Esforço recompensado
Responsável por grandes projetos arquitetônicos do Ceará (Instituto de Cultura e Arte da UFC, Hemoce e Secretaria de Educação), o arquiteto e ex-professor José Neudson Bandeira Braga colhe os frutos de uma vida dedicada à arte de criar e, principalmente, à sala de aula.
Aposentado da sala da UFC há 15 anos, Neudson Braga é o 5º servidor federal com o maior salário bruto do país (FOTO: Divulgação/AsBea-CE)
Filho de docente, o cearense iniciou sua carreira como “mestre” logo cedo também. A carreira como professor de faculdade começou por indicação. “Naquele tempo, confesso, não era tão difícil quanto hoje. Não tinha concurso acirrado. Era necessário apresentar apenas uma tese para ser aprovado”, lembra.
Aposentado da sala da UFC há 15 anos, Neudson Braga é o 5º servidor federal com o maior salário bruto do país com rendimentos de R$ 48 mil mensais (e R$ 26.888,47 após deduções). Ele reconhece que chegar até tal posição não é fácil, principalmente nos dias de hoje. “O salário do professor hoje é uma vergonha. Antes o salário era até pior, mas continuar assim, sem evoluir, é uma falta de respeito. Antes, mesmo com remuneração baixa, a gente era valorizado”, comenta o professor emérito da UFC.
Para ganhar tal reconhecimento (e salário), ele lembra que tinha que atuar tanto como arquiteto como professor, algo impossível nos dias de hoje. “Para entrar na universidade pública hoje, por meio de concurso, muitos exigem que o regime seja de dedicação exclusiva. Isso é ruim, já que nem permite que o profissional cresça na atividade original nem como professor, já que ele tem que colocar a prática de lado”, critica.
Ao avaliar o cenário atual, Neudson Braga acredita que professor devia receber o mesmo em qualquer categoria ou local de trabalho. “Esse piso salarial do magistério (R$ 1.917,78) faz com que muitos jovens que desejam ser professores desistam da profissão antes de começar. O professor devia ser respeitado. Ele é a pessoa mais importante na missão de formar novos profissionais”.
Tribuna do Ceará.