17/06/2015 13h16 - Atualizado em 17/06/2015 18h27

'É como se vivêssemos na faixa de Gaza', diz pai de baleado na Rocinha

'Ele levantou a cabeça e falou: 'mãe, cuidado!' E tomou o tiro", disse pai.
Imagens feitas por moradores mostram confronto na manhã desta quarta.

Cristina BoeckelDo G1 Rio

Mãe mostra foto do menino baelado com o curativo na testa (Foto: Cristina Boeckel / G1)Mãe mostra foto do menino baleado com o curativo na testa (Foto: Cristina Boeckel / G1)

O pai do adolescente Wesley Barbosa,13 anos, atingido por um tiro de raspão no rosto durante um tiroteio na favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, na manhã desta quarta-feira (17), não se conforma com o que aconteceu com o filho.

"Ele estava deitado no sofá na sala de casa e a minha esposa estava no computador, porque ela só trabalha mais tarde. Ela se levantou e foi fechar a janela, que estava aberta. Ele levantou a cabeça, a puxou e falou: 'mãe, cuidado!' E tomou o tiro", afirma o porteiro Eduardo Barbosa, de 36 anos.

Indignado, Eduardo lamentou a atual situação que a comunidade onde cresceu vive atualmente. "Está difícil viver ali. Os tiroteios são constantes. E como se vivêssemos em uma Faixa de Gaza".

Na manhã desta quarta, moradores das proximidades da favela registraram o intenso tiroteio desde as 6h. O som de tiros de armas de variados calibres ainda assustava os moradores até o final da manhã.

O adolescente foi baleado no supercílio direito. Segundo o pai, a sala da casa ficou  suja de sangue. A família mora em uma área de difícil acesso, na região do Cesario e, segundo eles, não tiveram nenhum tipo de auxílio para se deslocar até o hospital.

"Eu o amparei e não tive ajuda da polícia para levar o menino. Ainda chegaram a me parar no caminho e tentaram me impedir de passar," conta o pai do jovem, que conseguiu carona em uma via de grande movimento.

O adolescente, o pai, a mãe e um irmão chegaram ao Hospital Miguel Couto, no Leblon, por volta das 10h. O pai do menino não sabe dizer se ele foi baleado por policiais ou por criminosos. A mãe do garoto precisou ser atendida no hospital porque estava muito nervosa e é hipertensa.

Claudionora Barbosa, mãe do jovem contou que pediu para que ele não comparecesse à aula de fotografia que faz na PuC-Rio, pelo projeto Criança Esperança.

"Ele não tinha aula na escola hoje, e por causa do tiroteio pedimos para que ele não fosse para a aula de fotografia, porque era perigoso".

Claudionora também contou que os policiais tentaram impedir a saída da família da comunidade e nega que eles não tenham visto que Wesley estava ferido. "Impossível não ver aquele ferimento".

Ela lamenta a situação que a comunidade vive atualmente. "A impressão que eu tenho é de que eu dormi a Rocinha e acordei na Síria. De tanto tiro", disse.

Ela disse que o filho está calmo e contou que ele levou pontos no rosto e não deve precisar de cirurgia. Ainda não tem data para a alta do adolescente, segundo a mãe. Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde, o menino levou um tiro de raspão no rosto e está passando por avaliações médicas para saber se precisará de cirurgia. Ele está estável.

O irmão do adolescente, William Barbosa, lamenta que ele tenha sido atingido, já que a família nunca foi alvo da violência, e afirma que sempre deram conselhos para que ele se cuidasse. "Eu sempre dei conselhos para ele não ficar na rua à noite, para não se expor ao perigo. E aí acontece isso. De qualquer maneira, ele ainda salvou a vida da minha mãe".

De acordo com informações da 11ª DP (Rocinha), um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias do fato. Familiares estão sendo ouvidos e uma perícia de local foi solicitada. Os agentes estão realizando diligências em busca de outras testemunhas e informações que ajudem nas investigações.

Batalhão de cães atuou na operação na Rocinha nesta quarta-feira (17) (Foto: Divulgação/Batalhão de Atuação com Cães da Polícia Militar)Batalhão de Cães atuou na operação na Rocinha
nesta quarta-feira (17)
(Foto: Divulgação/Batalhão
de Ações com Cães da PM)

Operação policial
Policiais do Comando de Operações Especiais (COE) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC) realizaram a operação na Rocinha com o objetivo de combater ao tráfico de drogas.

Também participaram da ação policiais do Batalhões de Operações Especiais (Bope), e o  Batalhão de Choque (BPChq).

De acordo com a polícia, houve confronto durante a ação e uma pessoa ficou ferida.

O Batalhão de Ações com Cães (BAC) aprendeu oito granadas de fabricação caseira, oito morteiros e um simulacro de fuzil. Também foram apreendidas seis motocicletas e outras nove infracionadas. O cão Clint, do BAC atuou na mata junto com os policiais. Este ano, o mesmo cão encontrou um fuzil no Complexo de São Carlos, no Estácio.A ocorrência será encaminhada para a 11ª DP.
 

 

 

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