A partir desta segunda-feira (30), o Hospital Universitário Walter Cantídio e a Maternidade Escola suspendem vários serviços à população. O motivo, segundo as unidades hospitalares é o atraso no repasse do dinheiro do Ministério da Saúde.

Os serviços suspensos destacam-se, por exemplo, exames por imagem (tomografia, ultrassonografia e ressonância magnética) e a suspensão dos transplantes como fígado, rins, pâncreas e medula óssea. O Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) diminuirá em até 50% os seus leitos, devido à falta de repasse de verba. Já a Maternidade Escola Assis Chateaubriant suspendeu as cirurgias eletivas de alta complexidade.

Segundo o coordenador dos serviços de transplantes de fígado do Hospital Universitário HUWC, Huygens Garcia, os hospitais vivem uma situação muito difícil com os atrasos dos repasses. “Sem dúvida nenhuma esse é um momento muito difícil para nossa equipe de médicos. Para toda a comunidade do hospital. É muito difícil ver um hospital com mais de 50 anos de atuação em nossa sociedade ter que diminuir drasticamente os atendimentos em relação aos transplantes”, disse.

Falta de recursos básicos

Conforme Huygens Garcia falta nos hospitais recursos básicos, como por exemplo, tubos de ensaio. “A causa é a falta de recursos basicamente de insumos básicos. Do ponto de vista técnico eu até poderia fazer um transplante, mas não tenho, por exemplo, um tubo de ensaio, um tubo de coleta para colher o sangue no dia seguinte. Eu não tenho um exame de laboratório, eu não vou ter antibiótico. Isso inviabiliza qualquer tipo de procedimento de alta complexidade”, desabafou.

Huygens Garcia reforça que o último repasse feito pelo Ministério da Saúde ocorreu em agosto. E que o ministério deve mais de R$ 10 bilhões de repasses para as universidades do Brasil.

“Problema é a falta de repasses do Ministério da Saúde. Último repasse ocorreu no mês de agosto. Setembro não veio o repasse. Outro problema é que existe um acordo entre o Ministério da Saúde e Ministério da Educação para manutenção dos hospitais universitários no Brasil. Cerca de 50% fica a cargo do Ministério da Saúde e outra a cargo Ministério da Educação. O da Educação está pagando e o da Saúde não. Este ministério está com uma dívida de R$ 10 bilhões com os hospitais universitários do Brasil”.

Contratualização com prefeitura

Outro aspecto que precisa melhorar nas unidades hospitalares para aumentar a arrecadação é a contratualização com a prefeitura de Fortaleza, segundo o Huygens Garcia. “A contratualização, em um segundo aspecto, digo que o acordo faz mais de dez anos e ele é de 2005. Neste período, o hospital produziu muito mais. Principalmente no último ano e isso aumentou o consumo de material. Mas, por outro lado, não aumentou a arrecadação. Esse é outro aspecto que é para ser resolvido”.

Para um hospital que é referência em transplantes no Brasil a suspensão é uma péssima notícia para quem precisa do serviço.

“Afeta drasticamente de maneira irreversível. Nós sabemos que quando tem um doador aquele transplante tem que ocorrer imediato. Ele não pode esperar cinco horas. Sabemos que 60% dos pacientes transplantados nos hospitais universitários são de outros estados. Como fazer com esses pacientes. É uma perda para o nosso estado”, disse.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa) o Estado tem convênio com 36 hospitais polos, um deles é a Maternidade Escola, para complementar a rede de ginecologia e obstetrícia. Por ano, o Estado repassa R$ 135 milhões para todas essas unidades, dos quais R$ 2,1 milhões são para Meac, que está regular. Todavia, o órgão afirmou que até domingo não tinha como fornecer informações sobre o Hospital Walter Cantídio. Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) explicou que a prefeitura não tem convênio com unidades do complexo hospitalar da UFC.