TVJ1.com.br

Regionais



PUBLICIDADE

{}

Vazão reduzida foi decisiva no Tabuleiro de Russas

28 de janeiro de 2017 às 11:04 - Atualizado em 28/01/2017 10:04

undefined

 

Um dos perímetros irrigados mais promissores está com sua operação reduzida em mais de 75% devido à pouca oferta de água. Em apenas dois anos, o Distrito Irrigado Tabuleiro de Russas (Distar), que abrange parte dos municípios de Russas, Morada Nova e Limoeiro do Norte, viu sua produção despencar, impactando na geração de emprego e renda para a região.

Em 2014, era comum qualquer motorista que trafegava pela Rodovia BR-116, no trecho que compreende a divisa dos municípios de Russas e Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, se deparar com campos verdes e vastos do plantio de grãos. Os pivôs centrais, mecanismos instalados pelos produtores para irrigar grandes áreas, davam o tom da beleza da fartura em terras que antes eram áridas e sem produtividade.

Desde que foi implantado, em 1992, o perímetro teve sua primeira operação em 2006, beneficiando mais de 650 famílias com a geração de empregos diretos e indiretos, e renda para os municípios e o Estado.

Queda na oferta

No ano passado, a oferta de água para o perímetro fechou em 1.3m³/s, o que ocasionou uma diminuição de 25% da área irrigável de banana, passando dos 1.472 hectares para 1.068 hectares; redução de 100% das áreas de culturas anuais de melão, melancia e melão; 100% das áreas de cultura de laranja; 75% das áreas de limão e 60% das áreas de pastagem.

O comprometimento da agricultura irrigada frente à baixa oferta hídrica causou impacto negativo para a economia da região e, consequentemente, o aumento do desemprego.

undefined

 

A realidade de 2014 foi o ápice da produção no perímetro. À época, estavam em plena produção 6.151,8 hectares, fechando o ano com o faturamento de R$ 107.752.893,97. Já em 2015, a área foi reduzida para 3.868,37 hectares e a produção fechou o ano em R$ 63.977.214,97, sendo a primeira grande queda em função do baixo nível dos açudes na região.

A seca que comprometeu boa parte da produção em 2015 também afetou em 2016, ocasionando uma redução de área em torno de 1.500 hectares, o fechamento de 1.500 postos de trabalhos diretos nas áreas de culturas temporárias e cerca de 3.000 empregos indiretos. Os dados são do Distar.

Concordância

De acordo com Aridiano Belk, gerente administrativo do Distar, o volume de 1.3m³/s disponibilizado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em concordância com o Comitê de Bacias do Baixo Jaguaribe, só é o suficiente para irrigar 1.300ha, no entanto, medidas de economia têm sido adotadas para uma oferta maior de área. "Com os esforços que todos estão fazendo, temos conseguido irrigar uma área de 2.209 hectares. É uma forma de tentarmos ao menos manter o pouco da produção que ficou", lamenta.

O produtor Paulo Germano dos Santos precisou reduzir a área e se adequar à nova realidade para tentar continuar com sua produção de frutas. Ele conta que quando chegou ao perímetro, em 2009, produzia oito hectares de banana, dois hectares de mamão e dois de goiaba.

Em 2015, com a diminuição da água para irrigar, Germano reduziu metade da área de banana e extinguiu seus dois hectares de mamão. "Eu boto duas horas (de água) de manhã e duas à tarde pra não passar da cota, porque, se eu passar, eles cortam", explica.

No entanto, o produtor ressalta que o racionamento afeta a produtividade, quando as frutas recebem menos água do que elas precisam para desenvolver. Ele conta que vem acumulando prejuízos e que por semana chega a perder boa parte da sua produção. Os empregos gerados em sua área também foram comprometidos. Dos cinco empregos diretos ficaram apenas três. Com a diminuição da produção também houve queda nos empregos indiretos, segundo afirmou o produtor.

Política de gestão

Para o gerente do Distar, Roberto Cadengue, é preciso haver uma mudança na política de gestão dos recursos hídricos que, segundo ele, tem priorizado a indústria na Região Metropolitana, comprometendo a água do Interior, onde há maior necessidade.

"Não há condições. A agricultura consome muita água e não se pode transferir água do sertão", enfatiza. Ele ressalta que a água no campo para a agricultura irrigada traz um ganho social, com a geração de empregos e renda para os municípios.

"Ninguém está levando em consideração o ganho socioeconômico. Você chegava nas cidades onde tem um perímetro irrigado, antes de 2015, a situação era outra", conta, fazendo um paralelo com a atual situação de crise.

Ele conclui afirmando que apenas a transposição do Rio São Francisco, esperada para o próximo mês de setembro, não será a solução e que é preciso que o Estado reveja sua política de gerenciamento e distribuição de água em todo o Estado.

Diário do Nordeste