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Sem incentivos, cajucultura encolhe no Ceará

23 de janeiro de 2017 às 08:51

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O caju, que já chegou a ser o líder de produção no País, vem sofrendo dificuldades no Ceará. E quem pensa que é só por causa da estiagem, não é bem assim. De acordo com o Sindicato dos Produtores de Caju no Estado (Sincaju), a produção de 2016 – quinto ano seguido de seca –, foi igual a de 2015, ano em que 50 mil toneladas de caju foram produzidas no Estado. A entidade afirma que a falta de recursos para estimular a produção tem sido um dos principais fatores que retardam a atividade. Líder no Nordeste, o Ceará pode perder a posição para a Paraíba este ano. Em 2012, a produção estadual chegou à marca de 150 mil toneladas.

O presidente do Sincaju, engenheiro agrônomo Paulo de Tarso Meyer Ferreira – que também é presidente do conselho deliberativo da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Ceará (Aeac) – enfatiza que, mesmo já aprovado pelo Congresso nacional, em 2013, o Funcaju (Fundo de Apoio à Cultura do Caju) ainda não destinou recursos para estimular a produção – propósito para o qual foi criado. O dirigente aponta, ainda que o setor produtivo não tem recebido apoio nesse sentido. “Nem o governo federal, nem o governo estadual, nem o governo municipal tem se interessado pela cultura do caju”, lamentou.

Entraves


Meyer destacou, ainda, que, além da falta de recursos e água, há também as pragas, como o oídeo. Apesar disso, a tecnologia adotada tem segurado o setor. “Estamos com dez anos consecutivos de baixo índice pluviométrico e, para completar, cinco anos de seca. No entanto, não é só chuva que resolve a produção, mas os traços culturais – corte de galhos com antracnose e o tratamento do oídio, por exemplo. O kumulus – agrotóxico cuja base (princípio ativo) contém 80% de enxofre – não mata o oídio, que apareceu há cerca de seis ou sete anos, e ataca o pedúnculo e estraga a castanha”, relatou o dirigente. Cerca de 50 municípios ainda produzem no Estado, “e estamos trabalhando essa tecnologia no polo de Aracati sem, necessariamente, ter como fator principal, a chuva”, pontuou Paulo de Tarso. Segundo ele, não houve queda na quantidade de municípios produtores, mas declínio das áreas de produção no ano passado.

O dirigente lamentou que, em vez de incentivos, a tecnologia oriunda do Estado do Ceará foi exportada para outros países. “Posso dar um exemplo que, inclusive, nos ultrapassou, que é o Vietnã, que é o primeiro lugar no mundo (em produção de caju) – antes ocupado pelo Brasil. Em participação, o Vietnã está com 28,6%, seguido por Índia (20,7%), Nigéria (17,3%), Costa do Marfim (7,3%) e Brasil (6,6%)”, pondera. “Há 20 anos, nós batalhamos para que não fosse exportada a tecnologia do cajueiro anão precoce, não dando, de mão beijada, essa tecnologia – que deu um trabalho danado aos órgãos de pesquisa (Embrapa e UFC). Mas, infelizmente, aconteceu. O governo federal do Vietnã se interessou e, hoje, eles são os maiores produtores do mundo”, asseverou o sindicalista.

Saiba mais


A cajucultura na região Nordeste é desenvolvida, na sua maioria, em regime de sequeiro – em terrenos onde a pluviosidade é pequena – e por pequenos produtores. A produção acontece em época de seca, justamente no período de entressafra das demais espécies da região. O período da safra de caju se inicia em outubro, mas já em setembro é iniciada a colheita do cajueiro anão-precoce – que representa, atualmente, 18% da área plantada no Ceará. A relevância da cultura para a manutenção da mão-de-obra e a permanência do homem no campo é defendida pelo Sincaju, cuja cadeia produtiva e os derivados do caju, como a castanha e o pedúnculo, por exemplo, geram emprego e renda, fixando os produtores em suas localidades.

Técnicas agrícolas dão fôlego à produção


O presidente do Sincaju-CE, Paulo de Tarso (foto), aponta que a utilização de novas tecnologias aplicadas à produção estadual, feitos todos os tratos culturais – com a retirada de galhos secos, galhos afetados por antracnose e oídio, adubação com bagana – “garante (a produção de) duas gradagens”. “A água é importante, mas, além disso, os traços culturais adotados também contribuem para (elevar) a produção de caju. Só na região onde trabalhávamos, em Três Fazendas (Aracati), saía de 50 a 60 caixas de caju, por dia (cajueiro anão precoce enxertado), para, no mínimo, 400 caixas/dia, sendo negociadas para São Paulo e muitas sendo embaladas para outros países”, disse o engenheiro agrônomo, que está muito otimista com a safra deste ano.

Além de melhorar a produtividade do cajueiro, os galhos cortados, inclusive, podem gerar uma renda extra aos produtores. “Estamos tratando com transportadoras de madeira para fazer o corte de cajueiros antigos e o produtor tenha uma renda a mais com a venda desses galhos para combustão”, informa Paulo. Acompanhando a limpeza e tratamento, o dirigente também destacou a importância do plantio do cajueiro anão precoce, chamado de CCP 76. “Esse tipo foi o que mais se adaptou ao litoral leste, pois é mais resistente, as raízes são menos profundas e absorvem mais água”, justificou.


Outra técnica utilizada é o uso de bagana. “Em uma propriedade próxima a Aracati, no inverno passado, choveu 300 milímetros. O produtor pegou bagana e colocou no pé (entorno) do cajueiro, sem tirar as folhas – somente o mato, pois concorre e absorve toda a água. A folha aduba o cajueiro e, junto com a bagana, a produção cresce. Então, o cajueiro quer ser bem tratado, não bastando somente água”, finaliza o dirigente.

O Estado CE