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Seca. Castanhão garante abastecimento de Fortaleza só até setembro de 2016

Secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, diz que, caso as primeiras chuvas de 2016 não deem bom aporte ao Castanhão, açude Orós reforçará abastecimento da Capital dentro de seis meses, a partir de abril

03 de novembro de 2015 às 08:29

A declaração do secretário estadual dos Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, ao O POVO é a mais esclarecedora sobre o momento hídrico de Fortaleza: “Trabalhamos em simulações e levando em conta que pode haver o pior no próximo ano. Partindo desse princípio de um aporte mínimo (de chuvas), com a água que dispomos hoje do açude Castanhão e mais a ajuda do Orós, podemos garantir o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza sem medidas drásticas até setembro de 2016”. Na sequência, outra ênfase: “A partir de setembro, aí sim, podem ser adotadas medidas como o racionamento”.

Nesse cenário raso projetado para a Capital, Teixeira também confirma que, a partir de abril, pela primeira vez o Orós deverá ser acionado para abastecer Fortaleza diretamente. Ele disse que os estudos estão feitos e a decisão da SRH e de outros órgãos estaduais do setor hídrico já está tomada. “Se chover entre fevereiro e março e o Castanhão pegar boa água, aí o cenário é outro”, admite. A proposta, no entanto, é retardar ao máximo a medida. A ideia é que seja lançada a vazão média de 20 metros cúbicos por segundo (m³/s), em ondas (grandes quantidades lançadas de uma única vez), para que a perda por evaporação seja a menor possível. Cada m³ equivale a mil litros de água.

Hoje com 36,59%, o Orós já despeja água até o Castanhão em vazão irrisória, apenas para manter perene o canal de 150 quilômetros que os interliga. Com capacidade de armazenar 6,9 bilhões de m³, o Castanhão está atualmente com 13,55%, o pior volume desde que foi inaugurado em 2002. Está perdendo cerca de dois centímetros por dia com a evaporação.

Em 2016, a seca cearense deverá se estender pelo quinto ano seguido, agravada pela baixa reserva hídrica e pela indicação de um El Niño forte. O fenômeno é o aquecimento das águas centrais do oceano Pacífico. Os vapores superaquecidos do mar se deslocam para o Nordeste brasileiro e barram a formação de nuvens na estação chuvosa do Ceará - entre fevereiro e maio.

Parece uma guerra

O secretário explica que, além da chuva propriamente dita, a situação hídrica da Capital poderá melhorar “se houver colaboração maior da sociedade”. Cita o uso consciente da água, como adoção de medidas pessoais contra o desperdício, como potencializador das reservas disponíveis. Fortaleza representa o maior consumo no Estado (cerca de 3,5 milhões de habitantes, somada a Região Metropolitana). “A Capital tem que dar seu exemplo. Por isso estabelecemos a sobretaxa” (anunciada semana passada pela Cagece, que cobrará até 120% sobre o uso excedente se o usuário não reduzir seu consumo médio.

Ao longo da conversa, Francisco Teixeira se levantou várias vezes para indicar, num grande mapa do Cinturão das Águas do Ceará que adorna seu gabinete, as várias medidas adotadas para resolver a crise hídrica em diversas localidades do Estado. Água sendo transposta de um lugar a outro, de cidades que têm um pouco mais para as que já estão sem nada. Mananciais transferidos por adutoras de montagem rápida, restrições de irrigação ou a escavação acelerada de poços em jazidas de qualquer vazão. Teixeira descreveu vários casos em sequência pelo Interior. “E assim vai. É caso a caso. É parecido até com a guerra, em que você vai conquistando cidade por cidade, rua por rua”, comparou.

Mesmo comedidamente, Teixeira celebra a possibilidade da chegada de água pela transposição do rio São Francisco. A previsão dada pelo Governo Federal é que o Velho Chico comece a operar regularmente para o Ceará a partir de julho. “Mas eu dou um desconto e trabalho com mais dois meses e, digamos, que possa ser em setembro”, ressalta, com a experiência de já ter sido ministro da Integração Nacional (entre 2013 e 2014). Esse aporte, segundo ele, será animador também para as condições do Castanhão. O São Francisco chegará pelo sul do Ceará, num canal na cidade de Jati, e seguirá pelo Cinturão das Águas até o Orós.

O secretário admite, com parcimônia, que são simuladas medidas ainda mais drásticas dentro do cenário posto - como corte total no fornecimento para áreas de irrigação (hoje reduzida em 50% em regiões como o Jaguaribe) ou metas de redução para 15% do consumo na Capital (ao invés dos 10% atuais). “Tenho que esperar (a chuva) até maio do próximo ano, mas não posso esperar de braços cruzados, sem estabelecer algumas restrições (no uso)”. Teixeira reflete:“Não podemos esquecer de uma seca como essa. Não pode virar só literatura”.

MÁXIMO

Água remanescente

Inaugurado em 2002, o maior volume já armazenado no Castanhão foi registrado em 16/5/2009, quando atingiu 97,82%. Hoje está no pior volume. O secretário Francisco Teixeira diz que as águas que chegam a Fortaleza são remanescentes de chuvas dos anos 2004, 2008 e 2009. A seca atual começou em 2012.

MAIO 2012

Eixão das Águas

“Se não fossem os grandes açudes, como o Castanhão, não estávamos nem nas condições de hoje. Fortaleza já estaria sem água, por exemplo, desde maio de 2012”, diz Francisco Teixeira. A água do Castanhão chega à Capital pelo Eixão das Águas, que se estende do Vale do Jaguaribe até o Porto do Pecém por 255 quilômetros.

14,5%

é a reserva hídrica atual do Ceará. Entre 153 açudes, há 83 com volume abaixo de 9%.

O socorro do Orós

Se a água baixar mais sete metros...

O Castanhão está hoje na cota 82,1 metros. Se baixar à cota 75, será socorrido pela água do açude Orós. Os dois reservatórios, distantes 150 km, são interligados. O Castanhão está perdendo até 2 cm/dia com a evaporação.

Castanhão: 13,55%

O volume atual (última 6ª feira)

O maior açude do Ceará, principal fornecedor para Fortaleza, tinha 29,84% de água em 30/10/2014. Em um ano, seu volume caiu mais da metade (-54,59%).

Chuva da seca atual

Choveu 388,9 mm em 2012, 551,2 mm em 2013; 565,5 mm em 2014; e 525,3 mm em 2015. A chuva média deve ter 804,9 mm de fevereiro a maio.

Torneira pingando

1.380 litros/mês

O simples gotejamento da torneira mal fechada equivale, num mês, a mais de uma caixa d’água padrão desperdiçada. Se o pinga-pinga for maior, passa de 62 mil litros/mês.

Os vilões de sua casa

O vaso sanitário com vazamento e a máquina de lavar mal utilizada são os problemas mais detectados em aumento de consumo.

Litros/dia por habitante

Em tempos normais, o consumo aceitável é 150 litros/dia por habitante. Na Capital, o consumo hoje está em 113 litros/dia. Na atual escassez, a Cagece considera ideal 80 litros/dia.

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