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‘Pra ficar claro, escureci’: artistas negros expõem obras de arte em antiga senzala de Fortaleza

08 de outubro de 2021 às 08:43

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Quatro artistas negros de Fortaleza resolveram expor obras de arte em um local que já foi uma senzala. A exposição, que começou nesta quinta-feira (7), fica na Casa Barão de Camocim, espaço cultural no Centro da capital. “Pra ficar claro, escureci” traz produções que abordam a força e presença da negritude no Ceará.

As obras coletivas expostas são ‘Que negro/a é você?’; ‘Negro é cor?’; ‘Tinta Branca no Muro Preto’ e ‘Oxalá e Negros no poder’, assinadas coletivamente por Felipe Heloi, Nycolas Di, Tamires Ferreira e Robson Marques.

“Nossa exposição não é apenas de obras visuais, mas também traz desconforto sensorial. As pessoas são convidadas a sair do salão para ir ao porão, espaço desconfortável, quente, que traz um sufocamento. Isso é importante porque a romantização da história colonial permanece intacta”, afirma a artista plástica Tamires Ferreira.

Germiniano Maia, natural de Aracati, recebeu o título de ‘Barão de Camocim’ da família imperial, por volta de 1880, segundo o Mapa Cultural da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Este foi o único título de barão outorgado pela Coroa portuguesa. Maia construiu a casa que sedia a exposição.

“A escolha do local foi muito estratégica porque a Casa do Barão de Camocim reflete muito a arquitetura colonial, que traz uma memória muito dolorosa e, ao mesmo tempo, muito contraditória. Quando a gente faz essa exposição e puxa para esse espaço que é uma senzala, falamos de cultura, de história, de um espaço de esquecimento, porque, até então, antes da exposição, o espaço estava fechado”, complementa Tamires.

A exposição, que tem apoio da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), segue aberta à visitação até o dia 27 de outubro, de terça a sexta, de 10h às 17h, aos sábados, de 9h às 16h e possui intérprete de libras.

Ressignificação do espaço

Felipe Heloi, ilustrador, quadrinista e um dos artistas responsáveis pela exposição, reforça a importância da perspectiva de expor obras de arte feitas por artistas negros em um local anteriormente utilizado para tortura e escravidão.

“É um tema delicado de tocar. A gente não queria que fosse mais uma história, uma obra da negritude para falar de racismo. Não era sobre isso. A gente não queria explorar essa dor, mas precisávamos explorar o passado”, destaca o ilustrador.

“Nós começamos a nos guiar por esse passo para tentar aprofundar o debate. ‘Já falamos sobre representatividade, e agora? Vamos fazer o quê?’. O próximo passo foi ocupar. Vamos mostrar que existem negros no Ceará, falar sobre isso, fazer essa negritude chegar em todos os lugares”, complementa Heloi.

Com informações do G1