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Universitários cearenses relatam dificuldade com o ensino a distância por falta de internet e computador

24 de julho de 2020 às 09:07

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O estudante de administração da Universidade Federal do Ceará (UFC) Antonio Rhendson Barbosa de Oliveira, morador da cidade de Mulungu, a 120 km de Fortaleza, precisou adaptar sua rotina de estudos ao método de ensino a distância com o retorno da volta às aulas, na segunda-feira (20). Sem acesso a uma internet de qualidade e sem um computador próprio, o estudante de 21 anos depende do notebook da namorada, Letícia Ellen, 22.

Após a aprovação do Plano Pedagógico de Emergência (PPE), em assembleia virtual no dia 2 de julho, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o retorno das aulas foi aprovado para o início desta semana.

No entanto, de acordo com levantamento da Faculdade de Educação (Faced), 6,8% dos alunos não possuem equipamentos disponíveis para o ensino remoto, e 43% contam apenas com o celular. Na Engenharia de Pesca, 21% dos alunos que responderam à pesquisa relataram não ter notebook ou computador de mesa.

No levantamento do Centro de Ciências, por sua vez, com respondentes de 13 cursos, entre 20% e 40% não possuem notebook, e entre 60% e 80% não têm um desktop.

A falta de equipamentos para as aulas é uma realidade para Antonio. O jovem, ainda que consiga realizar as atividades no prazo, sente não estar contribuindo da forma como desejaria.

“Estou tendo que pegar emprestado o computador da minha namorada, mas é bastante difícil e chato você ficar dependendo da pessoa ter um tempo livre para colocar seu texto no trabalho, você se sente prejudicial”, diz.

Apesar de compreender que a pandemia trouxe mudanças inesperadas para a sociedade, o estudante se sente prejudicado por estar dependendo de outras pessoas, sem poder acompanhar e realizar seus estudos sozinhos.

Ações assistenciais

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De acordo com a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis, Geovana Cartaxo, a UFC realizou uma série de ações para tentar reduzir os impactos da pandemia e do ensino remoto para os estudantes. Até o momento, já foram disponibilizados cerca de 400 computadores nos espaços coletivos da universidade, implantaram Wi-Fi nas 10 residências universitárias, assim como distribuíram 1.064 chips.

Além disso, houve a modificação na forma de realizar e acessar as atividades para que estivessem disponíveis nos melhores horários dos alunos, considerando suas realidades. Para a professora, parar completamente as atividades da universidade não era uma opção viável.

“A gente primou muito para a flexibilidade. Paralisar toda a universidade até ter condições excelentes é um pouco impossível. Então, estamos sempre batalhando para melhorar cada vez mais a qualidade do nosso ensino e de nossa estrutura. A melhoria é contínua”, afirma.

De acordo com pesquisa realizada pela UFC com a participação de 10 mil alunos, 2,4 mil estudantes possuíam computador com uso compartilhado. Buscando disponibilizar um novo auxílio que garanta o acesso próprio para esse equipamento, a instituição está organizando um edital de inclusão digital a fim de contemplar entre 1.500 e 2.000 estudantes.

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A proposta deve disponibilizar R$ 1,5 mil para os alunos em situação de vulnerabilidade, a fim de comprarem o computador e apresentarem a nota fiscal, considerando critérios de vulnerabilidade socioeconômica e o número de disciplinas matriculadas.

Conforme explica, a resolução ainda se encontra em fase de aprovação, mas deve ter um resultado até dia 28. Caso aprovada, o edital será lançado logo em seguida.

Dificuldades

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Edimara Pereira, 22 anos, do curso de Letras da UFC, teve aulas remotas ainda no começo da pandemia, quando alguns de seus professores tentaram adaptar os conteúdos para um ensino à distância. No entanto, sentia dificuldade em acompanhar as disciplinas acessando somente pelo seu celular, sua única ferramenta digital.

Por mais que tentasse realizar as atividades passadas e acompanhar as reuniões marcadas em plataformas digitais, nem sempre conseguia ter acesso a todas as ferramentas pelo celular. Com o retorno às aulas, marcado para dia 3 de agosto, espera conseguir absorver o conteúdo e não ter tantas perdas no ensino.

“Eu não tenho um computador e com ele seria muito mais fácil de acessar e de ter essa praticidade. Quem não tem internet, nem computador acaba saindo muito prejudicado em relação aos outros alunos”, pondera.

Com as falhas na conexão, ela perdia partes das falas dos professores e não conseguia tirar todas suas dúvidas devido à queda no sinal. “Isso era muito difícil, muito complicado, porque causava uma dificuldade na compreensão do que o professor queria falar e no que a gente estava tentando entender”, declara.

Acesso

Cursando o primeiro ano de fisioterapia na UFC, a estudante Amanda, 18 anos, que não quis ser identificada com o verdadeiro nome, esperava aprender a se adaptar à Fortaleza e à nova rotina dentro da universidade. No entanto, com a pandemia, precisou retornar para o interior e cumprir o isolamento social, onde permaneceu mesmo após o retorno das aulas remotas, na última segunda-feira (20).

Sem computador em casa e com uma internet fraca, precisa acompanhar as aulas, realizar as atividades e manter as leituras acadêmicas pelo celular. Devido ao uso intensivo da pequena tela, tem sentido dor de cabeça.

“Alguns professores estão disponibilizando as aulas gravadas e isso tem ajudado bastante, mas acaba sendo um problema, porque como só uso o celular e tenho miopia, forço muito a visão”, diz.

Em caso de atividades mais complexas, como artigos acadêmicos, a jovem se desloca para a casa de parentes a fim de utilizar o computador emprestado, uma vez que alguns programas e ferramentas digitais não funcionam bem no celular.

“No momento, não tenho condições de adquirir um computador. Tenho que me expôr ao vírus, que nessas últimas semanas aumentou bastante na minha cidade, apesar de viver com uma pessoa do grupo de risco em casa”, diz.

Com as atuais condições de ensino, Amanda procura absorver da melhor maneira possível, mas percebe o EAD como uma metodologia muito limitante, sentindo falta principalmente do contato presencial da sala de aula.