Pop Tarantino lança Os Oito Odiados e fala sobre pressão para se superar: “Meus filmes são tudo para mim"

Tarantino lança Os Oito Odiados e fala sobre pressão para se superar: “Meus filmes são tudo para mim"

Em São Paulo, diretor ainda se disse fã de Cidade de Deus 

  • Pop | Felipe Gladiador, Do R7

Quentin Tarantino revela que só fará mais dois filmes

Quentin Tarantino revela que só fará mais dois filmes

Getty Images
Samuel L. Jackson é Marquis Warren em Os Oito Odiados

Samuel L. Jackson é Marquis Warren em Os Oito Odiados

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Jennifer Jason Leigh está ótima como Daisy Domergue

Jennifer Jason Leigh está ótima como Daisy Domergue

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Os Oito Odiados é um filme tenso do começo ao fim

Os Oito Odiados é um filme tenso do começo ao fim

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Um dos diretores mais badalados do mundo, Quentin Tarantino lança agora seu novo filme, Os Oito Odiados. Para promover a trama, ele esteve em São Paulo e conversou com a imprensa. Simpático, mas com aquele jeito um tanto intimidador já conhecido, Tarantino falou sobre diversos assuntos, como a repetição do gênero de faroeste, que ele também trabalhou em Django Livre, sobre sua dedicação incondicional ao cinema e até sobre filmes brasileiros.

Ao R7, Tarantino falou sobre a pressão de sempre se superar de um filme para o outro, de como lida com a grande expectativa que público e crítica colocam em cima dele.

— Existe sim uma pressão, existe um nível de qualidade com o qual eu fico satisfeito. Eu sou sortudo. Não tenho uma mulher, não tenho filho, meus filmes são tudo pra mim, não há nada mais importante para mim. Não faço filmes para comprar uma segunda casa, pagar pensão ou construir uma piscina, faço filmes como um esforço artístico. Acho que um dia isso vai chegar ao fim, porque não posso continuar para sempre. Para ser franco, eu não faria nada diferente. Eu quero continuar elevando o nível, eu ficaria muito decepcionado se chegasse a um ponto em que as pessoas esperassem qualidade e alguém respondesse “ele era assim há 10 anos". 

Pergunto sobre as semelhanças de Os Oito Odiados com seus outros filmes e o diretor aponta um detalhe que ele percebeu ser recorrente em todos os trabalhos que faz.

— Um tema que eu não tento colocar nos meus filmes, mas que continua aparecendo de tempos em tempos, e é definitivamente o caso de Os Oito Odiados, é que meus personagens são bons de atuação e geralmente há um momento em todos os meus filmes em que alguém finge ser algo que não é, finge ser outra pessoa, vende uma mentira e está "se apresentando".

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Na trama, acompanhamos vários tipos suspeitos dividindo espaço dentro de uma hospedaria. O clima de tensão é grande, já que ninguém parece ser flor que se cheire. Os oito personagens do título são os caçadores de recompensa Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e John Hurt (Kurt Russell), a bandida condenada ao enforcamento Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), o xerife novato Chris Mannix (Walton Goggins), o carrasco Oswaldo Mobray (Tim Roth), o cowboy Joe Gage (Michael Madsen), o mexicano Bob (Demián Bichir), que cuida do lugar, e um outro personagem que não vou revelar aqui para não estragar uma boa surpresa no elenco. Além deles, há o cocheiro O.B (James Parks), que não entrou na contagem do título, porque, segundo Tarantino, "ele é um cara legal".

O tom de mistério e a incerteza sobre cada passo dos personagens faz com que o filme, que dura cerca de três horas, tenha uma forte tensão, que vai se elevando conforme o tempo passa. 

— Uma das coisas que eu quis fazer nesse filme era não apresentar nenhum herói, ninguém é herói, não há uma “moral central” para você se guiar. Você não pode confiar em ninguém, não pode confiar no que nenhum deles diz sobre os outros ou sobre si mesmos. É preciso assistir para descobrir a verdade.

Apostando mais uma vez no faroeste, ele diz que há uma intenção.

— Eu amo faroestes e sempre quis fazer filmes do tipo. Acho que você precisa fazer pelo menos três filmes de faroeste para se considerar um diretor do gênero. Antigamente você precisava fazer uns oito filmes, mas hoje três está bom. Com o jeito com que eu estou lidando com questões raciais na América, especialmente quando se trata de pessoas negras em filmes de faroeste, eles sempre foram ignorados, acho que tenho algo a dizer, algo a acrescentar no gênero.

E se engana quem pensa que o elogiado diretor já sabe tudo sobre a arte de fazer cinema. 

— Parte da diversão, mas também parte do nervosismo no que eu faço é que eu escrevo coisas e não sei exatamente como vou fazer. Quando eu fiz Kill Bill, eu nunca tinha feito uma grande cena de artes marciais e não sabia como fazer, e eu aprendi a fazer. A mesma coisa com Django Livre, eu não sabia como lidar com cavalos, com faroeste. Agora que eu fiz Django e saiu bom, eu meio que sabia o que estava fazendo, eu pensei “Ok, deixe eu fazer de novo agora que eu sei o que estou fazendo e vamos ver o que conseguimos”.

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A trilha sonora de Os Oito Odiados foi criado pelo famoso compositor Ennio Morricone. Tarantino elogia o talento dele.

— Moriconi é meu compositor favorito de todos os tempos, não apenas de filmes, mas mais que Beethoven, ele é o melhor, então foi uma honra. Nós conversamos sobre trabalhar juntos antes, mas nunca deu certo e parecia que dessa vez também não ia dar. Ele teve uma ideia para escrever um tema, mas quando sentou para fazer, acho que ele ficou inspirado e acabou escrevendo 35 minutos de música, o que era praticamente o que precisávamos para o filme todo. Eu não dei nenhuma direção, ele simplesmente leu o roteiro e escreveu a música que achava que seria certa para o filme. Ele não escreveu trilhas para cenas específicas, ele fez a trilha completa e me deu para que eu usasse como eu queria. E ele não tinha visto o filme para escrever.

Sempre direto e muito sincero, Tarantino arrancou gargalhadas dos jornalistas ao responder se um dia trabalharia com o diretor Spike Lee, com quem ele tem uma rixa antiga, por Lee ter insinuado várias vezes que ele fazia filmes desrespeitosos com os negros. Ácido, Tarantino ainda disse que só fará mais dois filmes e depois vai se aposentar.

— Nunca [trabalharia com Lee]. Este é meu oitavo filme, depois farei o nono e o décimo será o último. Não vou desperdiçar nenhum deles com Spike Lee. O dia em que eu trabalhar com Spike Lee será o dia mais feliz da vida daquele filho da p...

Outra pergunta que chamou a atenção de todos na coletiva foi se Tarantino, que já fez filmes sobre vingança de uma mulher, de negros e de judeus, faria um filme sobre uma vingança gay contra preconceituosos.

— Existe uma história na internet baseada em Kill Bill e nessa fase de vingança que eu fiz nos últimos filmes e é tipo “O que aconteceria se Tarantino fizesse um filme de vingança gay?”. Era hilário! Eu adoraria pensar em coisas que o cara gay diria antes de matar alguém com uma espada samurai. Procurem na internet, vocês vão gostar. Eu não tenho planos, mas agora tenho isso na cabeça.

Falando de Brasil, o cineasta relembra sua primeira visita a São Paulo e indica filmes nacionais que gosta.

— Eu não era tão popular e pude conhecer São Paulo. Foi fantástico! Eu realmente pensei, lá em 1992, que aprenderia português, porque eu acho o idioma tão bonito, mas até agora não aprendi merda nenhuma.Quando se trata de filmes do Brasil, como todo mundo, eu sou fã de Cidade de Deus, mas para mim, quando eu penso em cinema brasileiro, penso em Pixote [do diretor Hector Babenco].

Os Oito Odiados chega aos cinemas nesta quinta-feira (7). Não perca!

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